terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ato em Porto Alegre reverencia memória de Getúlio Vargas



Presidente do PDT em exercício, deputado Vieira da Cunha
Diferente do cenário hostil que levou Getúlio Vargas ao suicídio em 24 de agosto de 1954, as forças trabalhistas do Rio Grande do Sul deram um exemplo de unidade em ato cívico na manhã deste domingo, 24, junto ao monumento à Carta-testamento, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre. PDT, PMDB e PTB, que estão unidos em coligação pela prefeitura da capital, pregaram uma unidade política também no cenário nacional, "como resgate histórico da memória de Vargas", conforme disse o prefeito de Porto Alegre e candidato à reeleição, José Fogaça.

Há 54 anos, golpe genial de Vargas

A renúncia pela morte, liquidando os inimigos

Há 54 anos, Getúlio Vargas, pela primeira vez presidente eleito do Brasil, se matava. Foi o golpe mais genial de toda a história, não só nossa mas do mundo inteiro. Getulio, apenas com um tiro, "deixou a vida para entrar na História", mas eliminava também, de forma irrecuperável, todos os inimigos ou adversários. A palavra que usei tem que ser repetida: GENIAL.

No Império e a partir da República, golpes e mais golpes. Apenas duas Revoluções verdadeiras, uma vitoriosa e outra derrotada. A vitoriosa, em 1889, quando houve uma ruptura das instituições, foi derrubado o Império e implantada (e não promulgada) a República. Mas a constituinte convocada e reunida 1 ano depois, em 15 de novembro de 1890, legítima, pois vinha de um poder originário legítimo.

A segunda Revolução, em 1935, um fracasso total, desorganizada, sem recursos, mas autêntica. Por quê? Simplesmente pretendia mudar o regime político e a representatividade popular ou direta. E tinha como objetivo econômico e financeiro a produção e distribuição da riqueza de forma inteiramente diferente, E-S-T-A-T-I-Z-A-D-A. Não chegou a marcar seu lugar, mas marcou o encadeamento das datas, golpes em cima de golpes. E essa Revolução chefiada por Prestes foi a grande motivação para Getulio Vargas criar o cruel e selvagem Estado Novo de 1937.

Na verdade, Vargas já estava no Poder desde 1930, um golpe como tantos outros, equivocadamente identificado como Revolução. Aos 43 anos, deputado inteiramente desconhecido, foi nomeado ministro da Fazenda pelo presidente Washington Luiz. Surpresa total. Em 1928, o mesmo Washington Luiz fazia de Vargas presidente do Rio Grande do Sul. Em 1930, depois de perder a eleição presidencial para Julio Prestes (de nenhum parentesco com o próprio), foi empossado como chefe do governo provisório. Num golpe no qual estava bem longe de ser a principal figura.

1930 provocou 1932, daí veio 1934, 1935, a frustração da "eleição indireta" de Vargas levaria a 1937. E daí a 1945 e a derrubada do ditador, que voltaria em 1950, armando tragicamente o 1954, que iria preparar outro golpe, este de 1964. Essa é a história encadeada de golpes e mais golpes. (Bem contados, mais de 40 golpes).

Depois de ter ficado 15 anos no Poder, sem eleição, governando ditatorialmente, Vargas não devia ter voltado em 1950/51. Não sabia governar democraticamente, foi cometendo erros colossais. Para tomar posse, eliminando a oposição de Lacerda-Golbery (então amicíssimos e tão golpistas quanto o próprio Vargas), teve que recorrer ao general Stilac Leal. (Como disse ontem).

Presidente do Clube Militar, feito ministro da Guerra, Stilac garantiu Vargas. Mas este cometeu muitos erros, equívocos colossais, foi se enfraquecendo visivelmente. Quando 69 coronéis publicaram um manifesto exigindo a saída do seu ministro do Trabalho e Vargas concordou, começou a assinar sua sentença de morte. Esse ministro se chamava João Goulart, nem ele nem Vargas podiam aceitar a intimidação. Mas aceitaram. (Isso no final de 1952).

Todo o ano de 1953/54 foi de conspiração de lado a lado, o que se repetiria 10 anos depois em 1963/64. Este golpe foi lastreado, plantado e consolidado pelo de 1954. Só que 1964 não teve um mínimo da grandeza de Vargas em 1954. Entre 1954 e 1964, houve a tentativa de não dar posse a Juscelino em 11 de novembro de 1955 e a renúncia de Janio em 1961. A trajetória de João Goulart também alicerçou a ambição militar.

De 1930 a 1945, Vargas foi fortíssimo. Muitos tentaram derrubá-lo, resistiu a tudo, venceu sempre. Mas em 1954, já com 71 anos (naquela época nada a ver com a longevidade de hoje), não teve ânimo nem capacidade para resistir.

Mas o surpreendente é que exatamente na manhã de ontem, há 54 anos, Vargas tivesse a percepção do que poderia escrever na história com um simples tiro no coração. Todo o seu passado de ditador convicto, inclemente, e sem respeitar ninguém, foi apagado para sempre, ficou apenas a trajetória de um tiro, que ainda pode ser ouvido até hoje. O estrondo de 54 anos passados mudou tudo, inclusive a história do Brasil.

Vargas foi um ditador nato, convicto e que só tinha uma admiração e uma obstinação: o Poder. E quando resolveu deixá-lo, com a renúncia indiscutível que é a saída pela porta da morte, inscreveu seu nome difinitivamente entre os personagens inesquecíveis. O que é uma constatação e não exaltação.

PS - Retificação desnecessária, mas obrigatória. Ontem saiu aqui que Vargas se elegeu pela primeira vez em 1945. Lógico, todos sabem que foi em 1950. Descuido?

PS 2 - O que me espanta é que alguns que se dizem democratas, se admitem democratas, se finjam de democratas, exaltem um ditador cruel. Ficou 15 anos no Poder sem eleição, tinha que fazer alguma coisa. Mas foi fazer quase 20 anos depois do México e de outros países. Até Mussolini deu mais direitos aos trabalhadores e muito antes de Vargas.

domingo, 24 de agosto de 2008

A Carta Testamento do Presidente Getúlio Vargas!




"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.



Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.



Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.



Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.



E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)

Fonte: Livraria Cultura

sábado, 23 de agosto de 2008

54 anos da controvertida e inesquecível morte de Vargas

Amanhã, 54 anos da controvertida e inesquecível morte de Vargas

Ninguém acreditava muito em Vargas. Expulso da Escola Militar Rio Pardo (Rio Grande do Sul), por causa de um acidente com morte, em Ouro Preto, mocíssimo, parecia inutilizado. Sem saída, de uma família da classe média alta, entrou para a Faculdade de Direito. Não acreditava ter qualquer vocação para a advocacia, e na verdade se formou e pronto.

Também parecia não gostar de política, ninguém percebia, mas estavam diante de um homem que, nascido em 1883, em 1937 (54 anos depois) se transformava no grande ditador do País. É bem verdade que desde 1930 até esse "Estado Novo" (muito pior do que a ditadura militar que começaria em 1968, antes era só preparação) já governava enganando a todos.

Agora que se discute o problema da anistia, é bom lembrar, registrar e ressaltar que não existe ditadura MILITAR ou ditadura CIVIL. Vargas, um civil, foi ditador com a colaboração de militares atraídos pelo Poder. E garantido por eles, representados pela marechal Dutra, 8 anos ministro da Guerra, chamado de "Condestável do Estado Novo".

Derrubada a ditadura do civil Vargas, assumiu o ex-ministro da Guerra, o marechal Dutra, que se notabilizou pelo respeito à Constituição. Como não podia deixar de acontecer, os principais cargos foram ocupados por civis. Veio a Constituição de 1946, cheia de erros, mas com aparente legitimidade, não conseguiu completar 18 anos. Atingiria a maioridade em agosto de 1964, foi assassinada em 1º de abril de 1964.

Seu assassinato teve a responsabilidade apenas de militares? Como já disse, isso não existe. 6 governadores, um ex-presidente e um presidente no Poder conspiravam. Como acontecera em 1889, os militares também conspiravam e chegaram ao Poder antes dos civis. Mas governaram com eles.

De 1964, passando pela autenticação da violência e do autoritarismo, os CIVIS foram colaboradores (ou colaboracionistas, como na França da Segunda Guerra Mundial) desses MILITARES. E muitos dos CIVIS ainda estão vivos e dominando o Poder. Que longevidade.

De madíocre a iluminado, em 54 anos de existência e governando d-i-t-a-t-o-r-i-a-l-m-e-n-t-e, completando 54 anos a partir do nascimento. Me obriga agora, 54 anos depois de sua morte, a voltar ao tema. Mas são tantas as versões, que não posso contar (nem mesmo reduzir) todas.

A República nasceu militar, militarista e militarizada. Os Abolicionistas (já vitoriosos) e os Propagandistas da República (que se julgavam vitoriosos) foram ultrapassados pelos dois marechais que vieram "irreconciliáveis" da estranha Guerra do Paraguai.

Uma semana antes, conversaram com o primeiro-ministro Ouro Preto e disseram: "Estamos solidários com o imperador, haja o que houver". Ficaram contra o imperador assim que vislumbraram, que palavra, a proximidade do Poder. E superaram os civis, os dois marechais se guerreando, um tentando derrubar o outro. E conseguiam. Getúlio entrou na "Revolução" de 30 com muita dificuldade, só aceitou mesmo quando seu vice (João Pessoa, derrotado com ele) foi assassinado. Tomou o Poder. E aqueles Tenentes idealistas de 1922, 24, 26, 27, 28, em 30 chegaram ao Poder, e cumpriram em toda a dimensão o conceito: "Não há ninguém mais conservador do que um revolucionário no Poder".

Dividiram o Brasil em "capitanias hereditárias", não deixaram mais o governo. E eram ecléticos. Estavam com Vargas no Estado Novo, ficaram contra ele no fim desse Estado Novo. Quando Vargas foi eleito pela primeira vez em 1945, quase não tomava posse, por causa de uma conspiração de militares, liderados por Carlos Lacerda. Vargas precisou nomear ministro da Guerra o general Estilac Leal, que era presidente do Clube Militar.

Depois veio 1952, 1953 e finalmente 1954, cada lado vencendo uma vez. Sua morte, a crise de 1955 (e os dois golpes do 11 de novembro), 1956, 1961, terminando em 1968.

PS - Hoje 23, véspera da morte de Vargas, começo. Amanhã, domingo, segunda, o dia seguinte da morte de Vargas, termino penosamente, com versões irreais ou reais de mais.